E se Pedro Casaldáliga fosse papa?

maio 10, 2007

Retirada do Blog do Sakamoto. Discussão muito valida diante da posição da igreja e de suas defesas “consensuais”.

Há semanas a mídia vem bombardeando os brasileiros com reportagens sobre o catolicismo e o futuro da religião, pegando carona na visita de Bento 16 a São Paulo que começou hoje. Mal o ex-cardeal Joseph Ratzinger aterrissou no país e já foi condenando o aborto, a pesquisa com embriões para obtenção de células-tronco e a eutanásia. Ou seja, o que era esperado dele.

Ao mesmo tempo, defendeu a solidariedade aos pobres e desamparados. Mas de que tipo de solidariedade ele está falando? Da caridade? Uma ação pouco útil, que consola mais a alma daquele que doa do que o corpo daquele que recebe? Ou da solidariedade de reconhecer no outro um semelhante e caminhar junto a ele pela libertação da alma e do corpo de ambos? Se for a primeira, ele está pregando a continuidade de uma igreja superficial, que ainda não consegue entender as palavras que estão no alicerce de sua própria fundação.

Se falou da segunda, a solidariedade como redenção do corpo e da alma, ele se referiu claramente à Teologia da Libertação. Prefiro acreditar que ele estava falando da primeira, pois seria irônico a atual administração do Vaticano (que dá continuidade à anterior) pregar algo que vem tentando soterrar há tempos.

A Teologia da Libertação tem sido uma pedra no sapato da Santa Sé. Na prática, esses religiosos católicos realizam a fé que o Vaticano teme ver concretizada ou não consegue colocar em prática. Pessoas como Pedro Casaldáliga, Tomás Balduíno, Henri des Roziers e Xavier Plassat que estão junto ao povo, no meio da Amazônia, defendendo o direito à terra e à liberdade, combatendo o trabalho escravo e acolhendo camponeses, quilombolas, indígenas e demais excluídos da sociedade.

Imaginem se ao invés de Ratzinger, fosse Casaldáliga descendo do avião nessa tarde chuvosa de São Paulo. E a defesa da vida fosse feita de outra forma, retomando palavras que ele proferiu há tempos:

“Malditas sejam todas as cercas! Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e amar! Malditas sejam todas as leis amanhadas por umas poucas mãos para ampararem cercas e bois, fazerem a terra escrava e escravos os humanos.”

Para ajudar a entender como seria um catolicismo em que a Teologia da Libertação fosse a principal corrente, sugiro a leitura da matéria Missão amazônica, de Carlos Juliano Barros, sobre a atuação desses religiosos na Amazônia brasileira.
enviada por Sakamoto

Deixe um comentário